9 de abril de 2010

Eu acredito em Auto-gerenciamento

Apesar de vários autores e pessoas que conheço não acreditarem, eu acredito em auto-gerenciamento porque vivi a autogestão.

É como uma religião, e quem me conhece um pouco sabe que não sou dessas coisas, mas o deslumbramento do novo, do ideal, da fluidez, da eficácia, da pró-atividade, nos incita em disseminar a informação. Queremos que todos sejam convertidos para a igreja do auto-gerenciamento.


Você, leitor, pode se perguntar: Como isso aconteceu na vida dele? E a resposta merece uma pequena história.

Trabalhávamos sem uma metodologia definida, com a sensação constante de desorientação. A desmotivação já abatia boa parte da equipe, que era desacreditada pelas áreas de negócio. Havia um grande controle da gerência onde o micro gerenciamento tomava boa parte do tempo do chefe direto. Até aí parece um grupo qualquer, que poderia estar situado em qualquer empresa do planeta.

Para mudar o cenário desfavorável somente algo de impacto e cuidadosamente avaliado, para evitar uma tragédia maior nos ânimos da equipe e de toda a empresa. 

Após uma análise da metodologia, toda a empresa, com o aval da presidência, abraçou o que seria a arma para reverter o cenário. Nascia a era ágil do Scrum na empresa.

Toda a empresa passou por um treinamento Scrum, desde a área de recursos humanos até as áreas de negócio e logicamente, o desenvolvimento, núcleo que eu fazia parte.

Bom, para encurtar essa história, pouquíssimo tempo depois da implantação do Scrum a equipe estava transformada. O primeiro impacto foi com o Kanban* pendurado em um armário. A ferramenta, que era desacreditada pelos colegas de outras áreas, foi a responsável pelo início da revolução no ambiente. A equipe de desenvolvimento, antes desacreditada por brincadeirinhas do tipo: "não fazem nada", passou a ser vista como eficiente. Isso aconteceu não porque começamos a trabalhar após a metodologia ser implantada, mas pelo fato da informação estar visível para todos na empresa. Isso mudou os ânimos.

Uma competição saudável se iniciou dentro da equipe. Era a busca alucinada pela eliminação daqueles Post-its pendurados na coluna To Do**. Tanto para as áreas de negócio quanto para a própria equipe de desenvolvimento, pela primeira vez o resultado do trabalho estava visível.

Deixou de existir o micro gerenciamento e tornávamos aos poucos independentes, tínhamos autonomia e confiança de todos, naturalmente a motivação da equipe aumentava, as reuniões eram produtivas, encontrávamos o prazer profissional. Esse já não é um cenário tão comum, mas aconteceu. É uma prova que um processo organizado motiva.

Auto-gerenciamento x Maturidade

Como religião, política e futebol geram grandes polêmicas, gostaria de abrir a discussão sobre um assunto controverso na auto gerência: o auto-gerenciamento se aplica somente em equipes com a média maturidade alta?

A equipe da história acima era composta por profissionais júnior e pleno, de maturidades variáveis, mas nenhum dos componentes chegavam a um nível 4 (nível máximo de maturidade, segundo Hersey e Blanchard) individualmente. Mas em equipe mostravam mais. Era o poder da sinergia.

A minha resposta pessoal para a pergunta sobre maturidade e auto-gerenciamento é que não há relação estreita. Podemos sim, ter desempenhos superiores à maturidade individual dos componentes da equipe.  

Por fim, vale a pena ressaltar que essa foi uma experiência pessoal, e que não é uma receita infalível que dará certo em qualquer cenário. Nem que o Scrum seja a solução para os problemas. Mas é certo que a combinação dos fatores estava propícia para o sucesso.

Eu acredito no auto-gerenciamento. E você, acredita?


Abraço.

* Clique aqui e faça o download de uma proposta de quadro Kanban.

** Tarefas para fazer (pendentes).

4 comentários:

  1. O auto-gerenciamento sem dúvida é um grande desafio. Desde que nascemos nos acostumamos com relações de comando e controle com nossos pais e professores, não assumindo na maior parte do tempo grandes responsabilidades. Com o tempo e a entrada no mercado de trabalho, o medo de errar acaba sendo incentivador para permanecer nessa zona de conforto. É preciso ter coragem e força de vontade para superar o medo e vencer o desafio de se expor, assumindo os riscos de um comportamento pró-ativo e inovador. Com o objetivo de conquistar mais maturidade após cada desafio, melhorando continuamente os processos de estimativa e a qualidade das entregas, é preciso estar inserido em um ambiente colaborativo, flexível e principalmente auto-organizado, que consiga despertar a pró-atividade e responsabilidade dentro da equipe. O resultado do trabalho de uma equipe tem relação direta com o comprometimento e as atitudes de cada membro do time durante o desenvolvimento do projeto.

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  2. Acredito que não haja uma relação direta entre a maturidade e o auto-gerenciamento, a relação que existe é vontade/comprometimento e o auto-gerenciamento. Independente do nível de maturidade de cada individuo que compõe a equipe se houver o comprometimento como um todo o auto-gerenciamento dá certo.

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  3. É isso aí! Individualmente é complicado falarmos em grandes resultados com baixa maturidade. Mas a sinérgica energia da equipe, bem organizada e gerenciada, resulta em bons resultados.

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