Nessa passagem do livro, Sidarta, personagem baseado em Siddhartha Gautama, o Buda, aprende a arte de ouvir com um inusitado mestre - o rio, onde aprendera a profissão de balseiro. Em uma bela metáfora simbolismo de purificação que o rio representa.
Interessante que já em 1922, Hesse já destacava um dos princípios de um bom líder - saber ouvir. A definição para a habilidade da audição descrita pelo autor é ainda mais intrigante e atual, conforme pode ser notado a seguir:
- prestar atenção: dedicar-se ao momento, reservar a devida importância a seu interlocutor e ao assunto que lhe é proferido.
- com o coração quieto: estar em sintonia na conversa e no que está sendo dito pelo outro. É comum enquanto o interlocutor desenvolve suas ideias, nós já nos preparamos para rebatê-las ou reforçá-las. Ainda pior seria se interrompêssemos uma conversa para impor algo que egocentricamente acreditamos ser mais importante do que está sendo dito no momento.
- com a alma receptiva, aberta: ouvir é uma arte também para receber aquilo que não concordamos ou não estamos preparados. Preservar os ideais, mas dar valor as crenças dos outros é fundamental. Como você pode discernir quanto a uma proposta se você já refuta imediatamente?
- sem paixão, sem desejo, sem preconceito: ouça e respeite. Acredite no que está sendo dito, analise, raciocine sobre o assunto e não deixe que preconceitos o ensurdeçam. Não trate o diálogo como uma disputa, não deseje vencer a todo custo, a sua posição de líder não cabe impor inconsequentemente suas ideias.
Enquanto estiver conversando posso adotar uma dentre os quatro níveis de escuta: posso ignorar o que está sendo dito; ou simplesmente selecionar aquilo que me chama a atenção; através da escuta concentrada posso concentrar as atenções para as palavras proferidas; ou finalmente ouvir empaticamente, o nível mais alto de escuta e pouco praticada.
Com a escuta empática o interesse não é nas palavras e sim em compreender o que está sendo dito, através da comunicação verbal e corporal. É transferir-se para dentro do interlocutor, entender suas ideias e seus paradigmas, passando a compreender suas
intenções e sentimentos.
Por um instante vamos nos colocar no lugar de um liderado, que tenta expressar uma nova ideia, uma sugestão ou até mesmo uma crítica. Qual é a sua expectativa? Quão pensada foi a sua atitude de expressar a sua ideia? Quanto ele deposita nessa conversa uma esperança de melhoria, seja no processo, no projeto ou no relacionamento?
Agora pense o quanto é perdido se essa ideia não for ouvida adequadamente. Não é só uma ideia que está sendo desconsiderada. Estaremos excluíndo o indivíduo não ouvido. Ser ouvido e sentir-se importante nas decisões motiva.
Por qual motivo poucos líderes exercitam a audição? Peço que me ajudem a listar os motivos pelos quais ideias são lentamente podadas até a sua inexorável ausência, por cansaço. No entanto, insegurança de ser a fonte de todas as soluções, a prepotência de ser a voz mais importante da equipe, ou ainda pela simples razão da incompetência para tal hábito, são alguns dos inúmeros motivos para a surdez do líder.
Novas soluções, ideias criativas ou inúmeras alternativas serão apresentadas com o exercício da audição, que podem ser perdidas caso você não exercite seus ouvidos desde já.
Abraço.
Referências:
COVEY, S. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes. 2008. Franklin Covey.
HESSE, H. Sidarta. 1950. ed. Record.
Imagem: Diego de Los Campos: todos los dias del mundo: p018.JPG. Disponível na Internet em: http://deloscampos.multiply.com/photos/album/83/todos_los_dias_del_mundo#photo=18. Acessado em 2010.
O medo de se tornar menos importante, a falta do “espírito de equipe”, a total falta de visão da valorização dos liderados como pessoas (indivíduos únicos dotados de diferentes valores), o medo de receber críticas e a visão retrógrada de que ao se preocupar com seus liderados é demonstração de fraqueza fazem poucos líderes exercitam a audição.
ResponderExcluirInfelizmente uma prática tão saudável e produtiva é deixada de lado por uma série de medos.